Nesta tarde de sexta feira, dia 24, na parte da tarde um grupo de índios
ocupou uma antiga fábrica de seda em Barbacena, no Campo das Vertentes. O
número de pessoas ainda não foi confirmado. De acordo com as informações
preliminares da Polícia Militar (PM), os índios, que dizem ser descendentes dos
puris, chegaram até o prédio e disseram que não sairão até que seja cedido um
território para moradia.
Contatos foram feitos com a
Secretaria de Estado de Planejamento (Seplag) e com a Fundação Nacional do
Índio (Funai). Ambas não se manifestaram até o momento.
Ainda segundo a PM, os índios relataram que a tribo deles povoou o
território do Campo das Vertentes e que o restante do grupo está a caminho da
cidade para fortalecer a luta.
Puris em Minas Gerais
De acordo com a Associação Nacional de Ação Indígena (Anai), os puris são uma
das 12 etnias espalhadas pelo estado. A população, de aproximadamente 60
índios, está organizada em duas comunidades que ficam no interior do Parque
Estadual da Serra do Brigadeiro, em Araponga, na Zona da Mata.
Fonte: G1 Zona da Mata
ÍNDIOS PURIS - PRIMITIVOS HABITANTES DA ZONA DA MATA MINEIRA - "Sertões do Leste" e o Contrabando de Riquezas Naturais
Até o último quartel do século
dezoito, as terras do leste de Minas estavam cobertas de densas matas e
permaneciam à margem dos avanços do branco. As autoridades da colônia e da
capitania proibiam a abertura de caminhos e a vinda de habitantes para os
Sertões do Leste que poderia se dar através dessa região, por julgarem que
assim evitariam o contrabando de riquezas naturais, especialmente o ouro.
Na metade do século dezoito, comerciantes de plantas medicinais,
principalmente de poaia, começaram a burlar as determinações oficiais e a
penetrar nas misteriosas florestas virgens desses “Sertões Proibidos”. Iam
também aventureiros que ambicionavam eventuais riquezas minerais. A princípio,
a ocupação foi cautelosa devido à reação das autoridades e dos índios mas, à
medida em que se apercebiam do relativo pacifismo dos mineiríndios dessas
florestas, os brancos e associados passaram a aumentar suas incursões pelas
terras do Leste. Assim, na metade do século, as autoridades deixaram de ignorar
que devassadores já haviam aberto picadas nos sítios dos “Sertões Proibidos” e
comercializavam a poaia com indígenas coroados (croatos), coropós (cropós) e
puris.
Os indígenas encontrados pelos brancos na Zona da Mata, não eram
originários da região, aí chegando em levas sucessivas desde o século
dezesseis, provenientes do litoral fluminense, mais exatamente da baixada dos
Campos dos Goitacazes, onde foram conhecidos por padre Anchieta, que descreveu
como uma “sorte de gente da mais feroz existente por toda a costa”.
A raiz étnica dessas tribos permanecem em discussão; alguns
pesquisadores os associam aos Jés, aparentados ao grupo dos Goitacás (Waitaka),
outros aos Tupis. Todos, porém, faziam parte das antigas populações da costa
brasileira.
Os deslocamentos desses grupos, na época colonial, começaram quando eles
fugiram do litoral, logo após à Confederação dos Tamoios (1555-67), uma vez que
esses passaram a invadir suas terras. Localizando-se mais ao norte, na região
da foz do rio Paraíba do Sul, foram expulsos pelos portugueses por volta de
1630, passando a se internarem nas florestas do Rio de Janeiro.
Nessa migração, tomaram o rumo oeste, seguindo o curso do rio Paraíba do
Sul e seus afluentes, principalmente os rios Muriaé, Paraibuna e Pomba,
alcançando as fraldas da Mantiqueira no final do século dezessete e início do
dezoito, fixando-se próximo ao Caminho Novo, porta dos Sertões do Leste. Pelo
Muriaé, atingiram o Carangola, espalhando-se pelas planícies e serras.
Na época, a região vizinha ao litoral fluminense encontrava-se coberta
por imensa floresta virgem: uma faixa de terra estreita nas proximidades de Mar
de Espanha, que ia alargando para o norte, em direção às florestas capixabas.
Essas matas formavam uma barreira natural ao povoamento dos brancos e, então,
os índios permaneceram por quase dois séculos.
Aproveitando o abrigo natural que as matas ofereciam, os índios aí se
estabeleceram, divididos em grupos familiares. Assim, na região do rio Pomba
estavam os Croatos, os Cropós e os Puris (ribeirão do Meia-Pataca, áreas de
Leopoldina, Serra da Onça; nas nascentes do rio Doce encontravam-se os
“famigerados” Botocudos, índios temidos pela violência que empregavam contra os
invasores de suas terras. No rio Xopotó, viviam os Caetés e na região do
Muriaé, os Guarulhos (tribo de gente barriguda, bons comedores).
Distante dos descampados litorâneos, as tribos foram obrigadas a se
adaptarem a novos costumes e meio de vida próprios do interior. Por exemplo:
quando viviam no litoral, os índios usavam longos cabelos, os quais tiveram que
ser cortados devido a vida nas matas; passaram a adotar um corte em forma de
coroa, no alto da cabeça, à maneira dos sacerdotes, o que lhes valeu o apelido
de Coroados.
Devido às migrações, os grupos foram se dividindo e se misturando a
outros, adquirindo algumas características físicas e culturais diversas
daquelas da tribo de origem.
Assim, grandes mudanças eram notadas na língua, sendo difícil
identificar os grupos originais, a partir desses dados. Essas observações foram
feitas por diversos viajantes estrangeiros que aqui estiveram no século
dezenove.
Culturalmente, as tribos viviam no estágio de bandos de coletores e
caçadores, com insipiente cultura material. Praticavam a caça, a pesca e a
coleta de raízes e frutos. As mulheres faziam uma bebida (o eivir ou viru) com
milho, o qual era mastigado para fermentar. Suas choças eram simples, cobertas
de folhas, construídas inclinadamente, contra o vento. À época de viagens e
caçadas nem construíam cabanas: cavavam suas camas no chão, o qual forravam com
palhas. Depois de aldeados pelos brancos, passaram a praticar uma agricultura
simples, apenas para subsistência, plantando mandioca, milho, tabaco,
batata-doce, bananas, etc.
Igualmente simples era sua organização política, sendo seu líder
escolhido pelas capacidades de caça e guerra. Também havia a figura do
curandeiro, a quem competia as ligações com o mundo espiritual e artes das
curas.
Quanto às guerras dos indígenas, elas podem ser vistas como sua forma de
reagir a conquistas de suas áreas de ocupação tradicional. Assim, elas
aconteciam contra outras tribos ou contra o branco.
As guerras dos índios contra os brancos visavam a manutenção de sua
estrutura cultural e a defesa de seu território. Existem relatos de que
povoações brancas foram desmanteladas pelos ataques indígenas.
Numa outra fase, ocorreram alianças entre brancos e índios para combater
tribos mais fortes ou negros quilombolas. Algumas tribos eram usadas como
“aliadas” ou como escravas.
Assim é que os Sertões do Leste começaram a ser desbravados com a
penetração de aventureiros que vinham em busca de plantas medicinais,
conhecidas pelos índios, que as colhiam e as trocavam por aguardentes.
Com o passar do tempo, esses índios se transformaram em guias para busca
de pedras e metais preciosos e para abertura de picadas na mata, com a
finalidade de instalação de novos caminhos. Alguns pesquisadores levantam a
hipótese da utilização dos índios como guia para contrabandistas e prisioneiros
do governo, que fugiam da vigilância dos “presídios” e das guarnições militares
neles sediadas.
Vale ressaltar que, no mundo dos brancos, persiste a idéia de que o
índio é inculto e vive mal, ou seja: mal alojado, mal vestido e mal alimentado,
que precisa de religião, médicos brancos, etc. Foi com essas idéias que os
colonizadores mineiros justificavam sua penetração nas terras indígenas. O
resultado disso foi a aquisição de vícios, como o de beber aguardente e de
doenças próprias do branco, para as quais não havia resistência.
Junte-se a isso os maltratos, o roubo de crianças para “educação” por
fazendeiros e sitiantes e os abusos sexuais, para se entender as razões do
quase total desaparecimento do elemento indígena.
Fonte: Adaptação do texto de Irenilda Cavalcante – Bacharel em
Biblioteconomia e Licenciada em História
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado pelo seu comentário, aguarde a moderação.