Hoje
vou falar um pouco da vida pessoal e esquecer a fase de 11 anos de como me
virei. Como já narrei fui criado pelos tios avós do meu pai desde a idade de três
anos acredito eu, e convivi com eles até o fim de suas vidas. No período que
fiquei desempregado foi um tempo difícil. Algumas características dos dois:
Francisco Resende era um senhor segundo sei era filho de um professor e não
tinha instrução, ele pela era uma pessoa fechada, não conversava muito sobre a
sua vida, como sempre teve dificuldades era muito cuidadoso e não gostava de
deixar dívidas ou faze las, se bem que o seu barbeiro ele sempre deixava um
corte pendurado para a próxima vez. Sei que quando casou morou um tempo na rua
das flores e depois aos poucos comprou um terreno onde havia, naquela época, as
mulheres da vida e foi criticado por isso. Pela sua dificuldade se você
quisesse ser inimigo dele falasse mal da sua casa, pois como ele disse foi
feita com o suor e sacrifício. Lembro-me que a casa por ser pequena poucas
vezes recebia alguém para passar a noite ou um período, e como fala meus
irmãos, tinham medo dele, pois na hora do banho ele muitas vezes batia na porta
do banheiro e gritava: “Não demora, olha a água e a conta de luz”, já era
tradicional. Mas no fundo era um coração de manteiga, tanto era que quando a
Carmosa e eu fomos para Ouro Preto e lá ficamos por mais de nove meses, quando
minha prima, filha do tio Moacyr, Cláudia, passava pro problemas de rins fazia
tratamento no rio de Janeiro e não sobreviveu tendo um derrame cerebral. Outra
passagem que poucos falam foi quando um parente dele ao mudar de Muriaé deixou
algumas dívidas e ele com suas poucas economias deram o dinheiro que tinha e falou:
”vai lá e paga suas dívidas e limpa o nome, que é a coisa que temos que ter na
vida o nome limpo”. Por não ter instrução e não ter filhos, muitos parentes
diziam que ele não poderia passar a sua casa para ninguém, pois perderia a casa.
Com muita conversa e muitas explicações um dia ele resolveu passar em uso e
frutos dele e da Carmosa a casa para os dois sobrinhos que tinha criado e ficou
tudo acertado. A casa que tem 50 m² ficaria para mim, com uma lateral de 1,5 m
e os fundos também para evitar ter que fechar no futuro as janelas e o restante
do quintal que girava em torno de 250 m² ficaria para meu tio, pois ele já
tinha um apartamento e só tinha filhas seria o ideal. No dia de passar a
escritura, duas netas sobrinhas, filhas do meu tio, coordenadas por outra tia,
foram poucos minutos antes na casa e falaram poucas e boas com ele e ridicularizaram
os dois Chiquinho e Carmosa e queiram que eu ficasse com o porão da casa e o
resto para seus pais, nessa época minha esposa estava grávida, eu não estava em
casa, pois estava trabalhando. Resultado os dois foram pra o fórum e lá
resolveram entre si a passar tudo para meu nome e com a condição de que a parte
que seria do outro passaria para a sua filha mais velha, eles não conseguiram
assinar, pois estava tão nervosos que foi testemunha um oficial de justiça,
irmão da esposa de meu tio. Passado algum tempo houve o comentário que o meu
tio iria entrar na justiça para anular a doação, alegando que os dois não
tinham capacidade de responderem pelos seus atos, comentário feito no clube Leopoldina
e avisado pela amiga da Carmosa Piedade. Assim que o assunto se espalhou dois
vizinhos mandaram avisar que se ele fizesse isso deporiam a favor dos dois e
ele ainda seria processado por danos morais ou calunia. Com isso o meu tio
nunca mais voltou a conversar com o casal e suas duas filhas menores nunca mais
tiveram contato durante esses anos com o casal. Um dia numa reunião entre eu, Carmosa,
Chiquinho e a filha mais velha do meu tio foram comunicado o desejo deles de
que a parte que era de seu pai passaria para ela, mas a mesma fez um
comentário: “Não preciso desse terreno e não quero brejo”, na hora o Chiquinho
deu um murro na mesa e disse agora não vai passar mais nada para ninguém, como
eu disse podia se falar de tudo, mas não falasse mal do que ele construiu com
tanta dificuldade. A sobrinha que era afihada continuou tendo contato com o
casal as escondidas.
A
Carmosa era uma pessoa que no meu ponto de vista era lutadora e pensava mais
nos outros que nela mesma. Lembro-me do carinho que tinha com os sobrinhos dela
em Ouro Preto, onde um deles às vezes bebia demais e ela passava a noite
acordada esperando ele chegar para coloca ló para dentro de casa, na hora do
almoço descascava laranjas para todos e quando havia uma discussão entre os
parentes estava sempre a colocar panos quentes. Lembro-me que em uma noite o
sobrinho chegou tonto e resolveu fazer sua irmã tocar piano e abriu a três
sacadas da casa e agora fico em dúvida se ele tocou ou a sua irmã e tocou o
piano de madrugada e a Carmosa com toda paciência esperava ele acalmar e o
colocava para dormir. Lembro-me da última noite, pelo menos na minha mente, da
visita da Cláudia a Ouro Preto, nas imediações do natal e ano novo, como digo
são lembranças vagas, mas vejo-a andando pela casa e observando todos os cômodos
como se quisesse se despedir, pois já estava no hospital no rio há meses,
passou mal e retornou ao Rio, um de seus irmãos iria doar os rins, mas a
medicina naquela época não estava tão avançada e não deu tempo ela sofreu um
derrame cerebral e teve o crânio cortado para tentar salva-la. Meses depois ao
se revelar uma foto para a família a foto apareceu com um risco justamente no
local cortado. Minha tia Aracy perdia a sua filha caçula e já havia perdido o
filho mais velho aos 11 anos e a Cláudia aos 15 anos. Minha tia ia ao cemitério
todo domingo e toda quarta levar flores e só andava de preto. Lembro e ainda
brinco até hoje que a tia Aracy quando chegávamos a Ouro Preto Chorava tanto na
chegada, quando na hora de ir embora, dizia que ela chorava de tristeza pelo
aumento das despesas na chegada e de alegria na hora de ir embora.
Eu e a Carmosa passávamos o carnaval e a semana santa em Ouro Preto patrocinado pelo tio Moacir, lembro que o mesmo morreu em uma noite e foi o único corpo que não o vi no caixão por causa de meus primos e eu depois disso nunca mais tive vontade de ver pessoas mortas no caixão. Mas a Carmosa era o tipo da pessoa que quando uma sobrinha ou parente ia fazer a festa ela pedia o material e fazia os doces sem cobrar era o seu presente, a mão de obra.
Durante 10 anos sofreu pela ausência do seu sobrinho, que era o seu preferido. Aos 89 anos em 1997 eu já desempregado o Chiquinho passou mal e foi para o hospital pela primeira vez na sua vida, ficou 12 dias, voltou em casa e retornou e morreu por edema pulmonar, lúcido.
Lembro que os médicos o proibiram de fumar, mas eu escondido comprava cigarro e dava aos enfermeiros e aos conhecidos caso ele pedisse podiam dar, não ia faze ló sofrer aos 89 anos com a falta do cigarro. Lembro que a Carmosa sofreu muito e tivemos que chamar o Dr. José Roberto para dar a noticia a ela no hospital. Segundo um dos vizinhos, durante o velório no cemitério, o tal sobrinho havia soltado foguetes em frente à casa do casal comemorando a morte, não sei se foi verdade ou não, fiquei sabendo e não contei para a Carmosa, mas a Pomba (Como era conhecido) contou e ela ficou arrasada. Naquele mesmo ano o sobrinho a procurou para passar o Natal com ele e ela respondeu: “nesses anos todos você não me convidou junto com o Chiquinho, então não vou, obrigado”. Desde a morte do Chiquinho ao qual já tinham completado 50 anos de casado a Carmosa foi murchando como uma flor perdeu o interesse por tudo, não saia quase de casa e em uma noite por volta da uma hora da manha escutou um barulho e corremos ao seu quarto ela estava tendo uma crise convulsiva e ficou dura como um pau lembra-me que a coloquei na cama e chamei a ambulância e foi levada ao hospital, depois desse momento ela não mais andava sozinha, tinha que usar fraldas descartáveis, sofreu de mal de Alzheimer e se esquecia de mim, da minha filha e a única que ela não se esqueceu de foi da minha esposa. Às vezes gritava quando eu entrava em seu quarto: “Lurdinha corre aqui tem um homem no meu quarto”. Ficou mais de dois anos e meio em cima de uma cama e como ela sempre dizia: “você vale o que tem, se nada tem nada vale”, os poucos parentes a visitavam e muitas vezes vinham de noite e davam biscoito de polvilho a ela e depois que saia ela passava mal e ia parar no hospital. Nessa época lembro-me de uma noite que estávamos fazendo doces para enviar a Petrópolis e ela passou mal, e tínhamos que despachar os mesmos às 5 horas da manhã, minha esposa levou ela ao hospital explicou a situação e retornou para terminarmos os doces. Nesta época havia pessoas que ajudavam voluntariamente com algumas quantias em dinheiro, é o caso da Martinha, e ela foi reempreendida por um parente para não ajudar, pois o salário da Carmosa nos usava para nosso uso, mal sabia ela que não dava para pagar as fraldas e os remédios da mesma e muitas vezes a família da minha esposa mandava fraldas por portadores para ajudar, pagava um plano da Unimed para minha esposa com a divisão dos irmãos. Em 2004 aos 86 anos Carmosa foi internada e reclamava de dores e ficava ai, ai, e o médico dizia isso é coisa da idade, só que ao entrar em coma descobriram que ela tinha pedra na vesícula e não poderia sofrer uma operação, pois não aguentaria. Chamei seus irmãos e um sobrinho que ela gostava o Lisboa ao hospital e falei em seu ouvido: “Carmosa estão todos aqui, sua irmã, seu irmão, seu sobrinho e todos estamos bem, não se preocupe estamos todos bem e ficaremos bem, não há com que se preocupar, pois ficaremos bem”, saímos do hospital e cinco minutos depois ela deu seu ultimo suspiro. Lembro que a sua poupança foi usada para pagar parte do seu sepultamento e quando fui à funerária negociar o restante do pagamento havia sido paga pela Martinha e deixado para mim.
Eu e a Carmosa passávamos o carnaval e a semana santa em Ouro Preto patrocinado pelo tio Moacir, lembro que o mesmo morreu em uma noite e foi o único corpo que não o vi no caixão por causa de meus primos e eu depois disso nunca mais tive vontade de ver pessoas mortas no caixão. Mas a Carmosa era o tipo da pessoa que quando uma sobrinha ou parente ia fazer a festa ela pedia o material e fazia os doces sem cobrar era o seu presente, a mão de obra.
Durante 10 anos sofreu pela ausência do seu sobrinho, que era o seu preferido. Aos 89 anos em 1997 eu já desempregado o Chiquinho passou mal e foi para o hospital pela primeira vez na sua vida, ficou 12 dias, voltou em casa e retornou e morreu por edema pulmonar, lúcido.
Lembro que os médicos o proibiram de fumar, mas eu escondido comprava cigarro e dava aos enfermeiros e aos conhecidos caso ele pedisse podiam dar, não ia faze ló sofrer aos 89 anos com a falta do cigarro. Lembro que a Carmosa sofreu muito e tivemos que chamar o Dr. José Roberto para dar a noticia a ela no hospital. Segundo um dos vizinhos, durante o velório no cemitério, o tal sobrinho havia soltado foguetes em frente à casa do casal comemorando a morte, não sei se foi verdade ou não, fiquei sabendo e não contei para a Carmosa, mas a Pomba (Como era conhecido) contou e ela ficou arrasada. Naquele mesmo ano o sobrinho a procurou para passar o Natal com ele e ela respondeu: “nesses anos todos você não me convidou junto com o Chiquinho, então não vou, obrigado”. Desde a morte do Chiquinho ao qual já tinham completado 50 anos de casado a Carmosa foi murchando como uma flor perdeu o interesse por tudo, não saia quase de casa e em uma noite por volta da uma hora da manha escutou um barulho e corremos ao seu quarto ela estava tendo uma crise convulsiva e ficou dura como um pau lembra-me que a coloquei na cama e chamei a ambulância e foi levada ao hospital, depois desse momento ela não mais andava sozinha, tinha que usar fraldas descartáveis, sofreu de mal de Alzheimer e se esquecia de mim, da minha filha e a única que ela não se esqueceu de foi da minha esposa. Às vezes gritava quando eu entrava em seu quarto: “Lurdinha corre aqui tem um homem no meu quarto”. Ficou mais de dois anos e meio em cima de uma cama e como ela sempre dizia: “você vale o que tem, se nada tem nada vale”, os poucos parentes a visitavam e muitas vezes vinham de noite e davam biscoito de polvilho a ela e depois que saia ela passava mal e ia parar no hospital. Nessa época lembro-me de uma noite que estávamos fazendo doces para enviar a Petrópolis e ela passou mal, e tínhamos que despachar os mesmos às 5 horas da manhã, minha esposa levou ela ao hospital explicou a situação e retornou para terminarmos os doces. Nesta época havia pessoas que ajudavam voluntariamente com algumas quantias em dinheiro, é o caso da Martinha, e ela foi reempreendida por um parente para não ajudar, pois o salário da Carmosa nos usava para nosso uso, mal sabia ela que não dava para pagar as fraldas e os remédios da mesma e muitas vezes a família da minha esposa mandava fraldas por portadores para ajudar, pagava um plano da Unimed para minha esposa com a divisão dos irmãos. Em 2004 aos 86 anos Carmosa foi internada e reclamava de dores e ficava ai, ai, e o médico dizia isso é coisa da idade, só que ao entrar em coma descobriram que ela tinha pedra na vesícula e não poderia sofrer uma operação, pois não aguentaria. Chamei seus irmãos e um sobrinho que ela gostava o Lisboa ao hospital e falei em seu ouvido: “Carmosa estão todos aqui, sua irmã, seu irmão, seu sobrinho e todos estamos bem, não se preocupe estamos todos bem e ficaremos bem, não há com que se preocupar, pois ficaremos bem”, saímos do hospital e cinco minutos depois ela deu seu ultimo suspiro. Lembro que a sua poupança foi usada para pagar parte do seu sepultamento e quando fui à funerária negociar o restante do pagamento havia sido paga pela Martinha e deixado para mim.
Nessa época lembro que nossa vida
estava terrível. Nesse período desde quando fiquei desempregado ensinamos a
nossa filha que não podíamos comprar ou dar coisas a ela de luxo, tínhamos uma
madrinha de casamento, Laura, que todos os dias festivos, aniversário, dia das
crianças, natal dava presentes a Cláudia para que ela não sentisse nossa
dificuldade financeira. Lembro que quando íamos à exposição avisávamos a ela
que só teria dinheiro para dar umas duas voltas ou três nos brinquedos e que
não poderíamos comprar nada, pois não tínhamos dinheiro, e ela nunca fez manha
ou reclamou presenciou isso acha que por isso hoje sinto uma baixa estima ou
medo do futuro nela, além do agravante a sua avó materna ter dito diretamente, o que já sabíamos, que não gostava dela..
Depois
eu conto o resto da minha trajetória até a chegada ao SESI... Mas está é sua
vida...
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