quinta-feira, 27 de outubro de 2011

A ESCRAVIDÃO EM LEOPOLDINA


Segundo Oiliam José1
As terras do município de Leopoldina desconheceram as tropelias do ciclo das minas. Foram desbravadas, a partir dos primeiros anos do século XIX, e colonizadas por agricultores e à agricultura continuariam dedicadas até o início da atual centúria, quando, com a queda sofrida pelo café, a pecuária passou a preponderar nelas. Era natural, por isso, que Leopoldina dispusesse, ao longo da época imperial, de numerosa população escrava, por sinal, a maior da Província em certa época.
1876 - Leopoldina abriga a maior população escrava da Província, com 15.253, para um total de 365.861 em Minas. Em 1883, é a segunda cidade com maior número de escravos da Província, com 16.001, contra 21.808 da primeira colocada, a cidade de Juiz de Fora.
A partir destas referências foi escrito o artigo publicado em 1998, que agora é revisto.
Servidos por tão numerosa escravaria e apoiados na força econômica do café, os fazendeiros leopoldinenses levavam um padrão de vida faustoso e, até certo ponto, aristocrático, copiando, na medida do possível, os usos e costumes da Corte.
Os números mencionados indicam, eloqüentemente, a força econômica e social dos senhores leopoldinenses e fazem compreender o empenho com que lutavam contra as tentativas de emancipação do elemento escravizado. E sabiam colocar em ação o poder de que dispunham! Era conhecida a pressão que os senhores de escravos do município faziam junto aos deputados mineiros à Assembléia Geral do Império para que não apoiassem os projetos emancipacionistas. Para isso, tinham a facilidade de manter constantes comunicações com a Corte, à qual estavam mais ligados que a Ouro Preto.
Entretanto, algumas informações sobre a abolição da escravatura em Leopoldina estão em desacordo com o constante em fontes documentais. Uma destas se refere ao 2º Barão do Bonfim, José Jeronymo de Mesquita, que
"em 15 de abril de 1888 teria alforriado seus 182 escravos e, à frente deles, entrou na cidade, indo todos assistir à Missa, na Igreja Matriz. Após o ato, o grupo teria voltado, sob aplausos, até o centro, onde o benemérito proprietário da Fazenda Paraíso foi alvo de entusiástica manifestação dos abolicionistas e do povo leopoldinense, em nome dos quais discursou o Dr. Paula Ramos, Presidente da Câmara Municipal. Solidarizando-se com as homenagens ao Barão do Bonfim, falou o Vigário Padre José Francisco Durães, logo seguido do Juiz Municipal, Dr. Antônio Augusto de Lima, veterano abolicionista desde os bancos acadêmicos de São Paulo e um dos mais dignos mineiros que a República projetou no cenário nacional".
O trecho sublinhado tem sido repetido em variadas obras, sem que se tenha descoberto qual a fonte original para esta declaração. Ao analisarmos a partilha de bens de Jerônimo José de Mesquita2, Barão, Visconde e Conde de Mesquita, verificamos que houve alguns enganos por parte do(s) autor(es), bem como em relação à informação encontrada em algumas publicações, dando conta de que o Barão de Bonfim recebeu a Fazenda Paraíso de presente de seu avô.
O Conde de Mesquita era filho de José Francisco de Mesquita, 1º Barão de Bonfim e depois Visconde, Conde e Marquês de Bonfim. O Conde de Mesquita foi pai do futuro 2º Barão de Bonfim cujo nome era José Jerônimo de Mesquita, ou seja, os pré nomes em ordem invertida. Por volta de 1860, o Conde de Mesquita assumiu a Fazenda Paraíso, no processo de liquidação de dívidas de membros da família Monteiro de Barros, formadora da propriedade. Após sua morte, em 1886, a Fazenda Paraíso coube, na partilha de bens, ao 2º Barão de Bonfim. Portanto, a informação sobre presente de casamento não parece ter fundamento.
Durante o processo de partilha, levantou-se o valor a ser pago como tributo pela transferência de escravos e a filha do Conde de Mesquita e inventariante, Jeronima Elisa de Mesquita, Baronesa de Itacuruçá, decidiu pela libertação de um bom número deles, senão todos. No caso dos cativos da Fazenda Paraíso, resta uma dúvida sobre a quantidade de escravos porque em período anterior a propriedade tinha sido vendida e o comprador não honrou os compromissos, devolvendo-a. Neste intervalo, o número de escravos mencionados na documentação era de "80 peças".
Segundo antigas publicações, a notícia da promulgação da "Lei Áurea", divulgada no município no correr do dia 14 de maio, teria provocado geral consternação entre os agricultores e motivado violentos protestos dos proprietários de escravos, inclusive reunião deles para externarem seu formal repúdio à Monarquia que, no entender de todos eles, havia praticado verdadeira espoliação e estava no dever de votar imediata indenização em favor dos que perderam a propriedade escrava.
No entanto, não podemos nos esquecer que há alguns anos estava em curso a substituição da mão-de-obra escrava pelo trabalhador livre, especialmente com a contratação de imigrantes europeus. Especialmente entre os fazendeiros de café, desde o início dos anos oitenta dos oitocentos formaram-se associações destinadas a organizar o trabalho nas fazendas, nos moldes do que vinha sendo feito no estado de São Paulo. A análise de documentos dos então chamados Clubs da Lavoura, bem como a comparação dos mapas de arrecadação de tributos sobre escravos da década de oitenta, leva-nos a crer que houve uma queda significativa no número de cativos nas fazendas da região de Leopoldina. Talvez o 13 de maio tenha encontrado escravos de lavoura somente nas pequenas propriedades e, nas grande fazendas, parece-nos que 1888 só os encontrou quando destinados aos trabalhos de dentro de casa. Para melhor avaliação dos leitores, sugerimos o documento anexo, uma ata de reunião de lavradores de Angustura, em dezembro de 1887.
Fontes:
1 - JOSÉ, Oiliam. A Abolição em Minas. Belo Horizonte; Itatiaia, 1962. p.137
2 - Coleção Kenneth Light, disponível no Arquivo Histórico do Museu Imperial

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FONTE:http://cantoni.pro.br/historia/abolies.html

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